O inverno artificial da China



por Leandro Bellato – Climatempo


Quando ocorre uma explosão vulcânica muito intensa, milhões de toneladas de rocha são pulverizadas e lançadas à atmosfera, cobrindo uma grande área com cinzas e poeira, que bloqueiam a luz do sol. Dependendo da situação, as cinzas são espalhadas pelas correntes atmosféricas e cobrem todo o globo, ocasionando num leve bloqueio global da luz solar e diminuindo a temperatura do planeta. Quando a erupção é realmente intensa, a quantidade de cinzas e poeira introduzida na atmosfera é tão grande que os efeitos do bloqueio solar são drásticos, causando temporariamente o resfriamento de todo o planeta, o que é chamado de "inverno vulcânico". A explosão do vulcão Tambora, na Indonésia, em 1815 fez com que não houvesse verão naquele ano, nevando no hemisfério norte nos meses de junho e julho, além de impactar o clima global por mais de uma década. Em menor escala, a explosão do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991 resultou no resfriamento global do planeta em 0,5°C entre 1991 e 1993.


A China carece de leis ambientais rígidas ou de controle governamental eficiente sobre a emissão de poluentes. Seu enorme campo industrial e o consumo energético de sua população gigantesca, tendo como matriz energética o carvão, faz da porção nordeste do país o local mais poluído do mundo. Em 2013, o material particulado fino, cujas partículas são compostas por unidades com até 2,5 micrômetros de diâmetro (e são extremamente danosas à saúde) na área de Pequim ultrapassou em 50 vezes o nível de periculosidade estabelecido pela Organização Mundial de Saúde. Estudos sugerem que a poluição não só compromete a saúde dos chineses e os expõe a várias doenças cardiorrespiratórias e vasculares, mas de fato diminui a expectativa de vida da população em mais de 5 anos.


A poluição se espalha por uma área tão ampla que pode ser vista do espaço. Esta "névoa" seca causa chuva ácida, que contamina o solo e os reservatórios d'água naturais, além de afetar o desenvolvimento de vegetais e corroem estruturas metálicas e de concreto, comprometendo edifícios, viadutos e pontes. Além disso, a névoa é tão espessa que dificulta ou mesmo impossibilita a fotossíntese, comprometendo severamente a agricultura no nordeste do país, a área mais povoada da China e, portanto, a de maior demanda por alimentos. Ao bloquear a luz do sol, a poluição chinesa também agrava localmente os invernos, que passam a ser ligeiramente mais frios e mais duradouros, além de fomentar nevascas.


Parte deste material particulado é transportado para leste, através das correntes de jato da alta troposfera, e pioram os já graves problemas de poluição da América do Norte. Além disso, há indícios de que os invernos mais severos da costa oeste da América do Norte da última década, com suas nevascas mais intensas, estão correlacionadas ao transporte de material poluente vindo da China. As partículas de poluição não só bloqueariam parcialmente a luz solar, como serviriam de núcleos de condensação especiais para a formação de neve e gelo na atmosfera, aumentando a ocorrência e o volume de neve nesta região. Apesar dos efeitos localizados desta poluição serem comparáveis aos de um inverno vulcânico de baixa escala, os efeitos globais são muito diferentes e contribuem intensamente para o Aquecimento Global. Como todo este material particulado é obtido através da queima de combustíveis fósseis, em especial carvão e petróleo, dióxido de carbono e até metano, poderosos gases do efeito estufa, são liberados em quantidades colossais diariamente pela indústria chinesa e por sua frota automotiva, deixando o país no topo da lista dos mais poluentes do mundo.


Fonte: http://www.climatempo.com.br/noticia/2016/05/30/o-inverno-artificial-da-china-3349


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