Entenda os impactos do aquecimento global se a temperatura subir até 1,5°C ou mais de 2°C


Relatório divulgado nesta terça (26) mostra que temperaturas globais podem aumentar a até 3,2°C ainda neste século. Derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e secas são projetados caso não haja redução nas emissões de gases estufa.


Cientistas alertam que o aquecimento global trará graves consequências, com impactos ambientais e sociais. Atualmente, a meta é manter o aumento das temperaturas em até 1,5°C para diminuir esses efeitos, mas as pesquisas apontam que estamos cada vez mais distantes desse objetivo. Os pesquisadores já apontam que o aumento da temperatura pode chegar a até 3,2°C até 2030.


Ainda não há projeções claras sobre o que a elevação de mais de 3ºC poderia causar no planeta. Abaixo, veja alguns dos cenários para o caso de a alta ser contida em 1,5ºC ou ultrapassar 2°C. Aumento dos níveis do mar, ondas de calor e desertificação são algumas das consequências previstas pelos cientistas nesses cenários.


Aquecimento projetado por cientistas


De acordo com um relatório publicado em outubro de 2018 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), agência ligada à ONU, o aquecimento global causado pela ação humana já pode ser observado em diversos fatores que incluem mudanças de temperaturas tanto nas superfícies terrestres quanto nos oceanos.

Também há evidências de que o aquecimento global tenha alterado a frequência e a duração das ondas de calor marinhas e o volume de chuvas, em escala global, além da acentuação das secas na região mediterrânea.

O cenário com aumento de 1,5ºC já prevê uma série de mudanças e levanta questionamentos entre os cientistas sobre a possibilidade de estabilizar ou reverter o a elevação das temperaturas.


O cenário com um aquecimento de 2ºC ou mais é ainda mais preocupante.


Oceanos e geleiras


A expectativa do IPCC é de que o aumento das temperaturas nos oceanos seja maior num cenário de 2ºC do que naquele de 1,5ºC. “A probabilidade de que haja mar sem gelo no Oceano Ártico durante o verão é substancialmente maior a 2ºC, em comparação com o aquecimento global de 1,5ºC”, diz o relatório.



  • 1,5ºC: Com uma variação menor na temperatura, o mar do ártico deve ficar sem gelo a cada 100 anos. A diferença no nível do mar global para o fim do século 21 projetado para 1,5ºC é de 0,26 a 0,77 metro (em relação aos níveis de 1986 a 2005). Se o aumento do nível do mar for menor, até 10,4 milhões de pessoas a menos serão impactadas até 2100. Ainda que se mantenha a meta reduzida de temperatura, os impactos já são observados nos habitats marinhos, como é o caso dos recifes de coral, cientistas projetam que 90% das espécies estão condenadas.

  • Acima de 2ºC: Com este aquecimento, o mar do Ártico deve perder suas geleiras a cada 10 anos no verão. O aumento nos níveis do mar devem ser 0,1 metro maior que os previstos no cenário a 1,5ºC. Há grandes chances de o nível do mar continuar subindo depois do ano 2100, segundo o IPCC. Há evidências de que a acidificação da água nos oceanos seria maior, impactando duramente os organismos e ecossistemas marinhos – além de setores econômicos como a pesca e a aquicultura.



Superfícies terrestres


O IPCC prevê que as médias de temperaturas seriam mais elevadas na maioria das áreas terrestres num cenário de 2ºC do que num cenário de 1,5ºC. Em ambos os casos, as temperaturas médias seriam mais altas do que as atuais. Haveria uma redução na ocorrência de ondas de frio. Além disso, aquelas que ocorressem seriam menos frias. Esse impacto deve ser sentido especialmente nas áreas cobertas por gelo ou neve.



  • 1,5ºC: Limitar o aumento global a 1,5ºC em vez de 2ºC poderia fazer com que cerca de 420 milhões de pessoas a menos sejam expostas a ondas de calor extremo e cerca de 65 milhões de pessoas a menos seriam expostas a ondas de calor. Será registrado mais calor nas áreas de latitudes médias durante o verão (entre os trópicos e os círculos polares), onde a elevação pode chegar a 3ºC. Nas áreas de alta latitude, durante o inverno, a elevação pode alcançar 4,5ºC. A 1,5ºC, o número de espécies de animais e plantas podem desaparecer a uma tava de 6% dos insetos, 8% das plantas e 4% dos vertebrados.

  • Acima de 2ºC: Em algumas regiões o aumento pode ser de duas a três vezes maior no cenário acima de 2ºC. A 2ºC estima-se que as espécies que perderão pelo menos metade do seu espaço geográfico serão 18% dos insetos, 16% das plantas e 8% dos vertebrados. Além disso, a 2ºC são maiores os riscos de pragas, difusão de espécies invasoras e incêndios florestais.


Prevê-se que, considerando os períodos de mais calor, o aquecimento seja mais forte na América do Norte central e oriental, na Europa central e meridional, na região mediterrânea (incluindo sul da Europa, norte da África e Oriente Próximo), Ásia Ocidental e Central e África Austral.


Chuvas


Limitar o aquecimento global a 1,5ºC reduziria o risco de ter chuvas intensas em escala global. Elas seriam ainda mais acentuadas num cenário de 2ºC ou mais.

As regiões com os maiores aumentos nas chuvas intensas incluem: várias regiões de alta latitude (por exemplo, o Alasca e o Canadá, a Groenlândia, a Islândia, o Norte da Europa e da Ásia); além de regiões montanhosas (por exemplo, o platô tibetano); a Ásia Oriental (incluindo China e Japão); e leste da América do Norte.

Os ciclones tropicais devem ocorrer em menor frequência, mas deve ser maior o número de ciclones com intensidade muito forte. Esse fator também se acentua no cenário de 2ºC, em relação a 1,5ºC.


A erosão causada por chuvas também deve ser superior num cenário a 2ºC, assim como as enchentes.


Secas e desertificação


O aquecimento global a 2ºC ou mais deve aumentar a probabilidade de ocorrência de secas extremas, assim como falta de chuvas e riscos associados à falta de água, segundo o IPCC. Os riscos são um pouco menores no cenário a 1,5ºC.


A diferença entre os dois cenários é especialmente expressiva na região mediterrânea (Sul da Europa, Norte da África e o Oriente Próximo). A 2ºC as secas serão mais frequentes e mais intensas.

Ao avaliar os impactos da desertificação e da escassez de água, o IPCC apontou que 8% das terras no Brasil já sofrem alguma forma de degradação relacionada. Na Caatinga, a estimativa é de 50% da área. Cientistas alertaram também que se o desmatamento na Amazônia atingir 40% da floresta, chega-se a um ponto irreversível tanto para barrar o aquecimento global quanto para a sobrevivência do ciclo da floresta como é hoje.


Alimentos e saúde


A disponibilidade de alimentos deve ser mais restrita se o aquecimento chegar a 2ºC ou mais nas regiões do Sahel, no Sul da África, no Mediterrâneo, na Europa Central e na Amazônia, segundo o IPCC.

Qualquer elevação nas temperaturas globais terá um impacto na saúde humana. Os riscos são menores, porém, a 1,5ºC, especialmente no que diz respeito às mortes causadas pela emissão de gases estufa e nos fatores que levam à desnutrição. Ondas de calor devem favorecer a difusão de doenças como a malária e a dengue em áreas que hoje não são atingidas.


A pobreza e a migração também devem aumentar, já que comunidades que dependem da agricultura serão fortemente afetadas.


Relatórios da ONU em 2019 falaram sobre aquecimento global


O IPCC divulgou em 2019 outros dois relatórios sobre as mudanças climáticas, divididos em efeitos na terra e no mar, veja abaixo os destaques destas publicações.


  • O aumento da temperatura global é mais alto nos continentes, onde há vida humana. Em algumas dessas regiões, o aumento já atingiu de 1,4ºC a 1,5ºC

  • As emissões dos gases do efeito estufa relacionadas à agricultura, desmatamento e outros usos do solo representam 22% do que é liberado no mundo

  • No Brasil, o aquecimento pode reduzir as safras de milho em 5,5% a cada grau Celsius de aquecimento. Nos EUA, esse percentual pode chegar a 10,3%

  • Até o ano 2100, se nada for feito, o aumento do nível do mar pode alcançar até um metro de altura; isso pode acarretar a retirada de milhões de moradores de áreas costeiras e ilhas

  • Com o aquecimento da água, oceanos se tornarão mais ácidos, alterando a vida marinha; ainda que se limite o aquecimento a 1,5°C, os recifes de coral já estão quase todos condenados

  • Até o final deste século, a frequência de ondas de calor marinhas pode aumentar em 50 vezes, chegando a uma variação de 3℃ ou 4℃











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O projeto Tempo de Aprender em Clima de Ensinar foi criado pela equipe do Laboratório de Meteorologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (LAMET/UENF), com o intuito de discutir com alunos e professores de escolas públicas as diferenças entre os conceitos de “tempo” e “clima” através de avaliações e estudos das características da atmosfera.

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