Universidade dos EUA estuda impactos de mudanças climáticas em tartarugas de Noronha


Pesquisa, que colhe informação sobre machos, é da Universidade Estadual da Flórida. Há indicações da relação entre temperatura da areia e sexo dos animais.



Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, está monitorando as tartarugas machos, em Fernando de Noronha. O objetivo é saber o impacto das mudanças climáticas globais no sexo da espécie Chelonia mydas, ou tartaruga verde, a única que se reproduz no arquipélago. Os estudos indicam que, quanto mais quente a temperatura da areia, mais fêmeas nascem.


O estudo, financiado pela National Science Foundation (NSF), é desenvolvido em parceria com a Fundação Pró-Tartarugas Marinhas (Tamar). O biólogo brasileiro Armando Barsante, que por 18 anos trabalhou no Tamar, é estudante de doutorado da universidade americana e está na ilha fazendo a coleta de dados.

“Pouco se sabe sobre o comportamento das tartarugas macho no mundo. Essa é uma pesquisa inédita. Vamos investigar a paternidade das tartarugas e quantos machos contribuem em um mesmo ninho, entre outras informações”, disse Barsante.


O biólogo revelou que as fêmeas saem da água para desovar e, por isso, são mais acessíveis. Os machos quase não deixam o mar, dificultando o estudo sobre o comportamento. Em alguns lugares do mundo, a proporção é de quatro fêmeas para cada macho.


“Em 28 graus [de temperatura], metade da ninhada seria macho e a outra metade, fêmea. À medida que esquenta a temperatura, gradativamente, mais fêmeas serão produzidas. Caso se chegue a 32 graus, só nascerão fêmeas”, observou o pesquisador


No dia 23 de dezembro do ano passado, o biólogo colocou um transmissor que emite sinais via satélite em um macho, que passou a ser monitorado. O animal ganhou o nome de Júlio Grande (morador histórico da ilha) e ficou em Noronha até o dia 8 de janeiro. A partir dessa data, teve início a migração.


A tartaruga já percorreu mais de mil quilômetros, passou pelo Rio Grande do Norte e chegou ao litoral do Ceará. A rota foi catalogada pelos pesquisadores. O estudo prevê colocar mais oito transmissores em tartarugas macho em 2020 e mais oito em 2021, totalizando 17 transmissores.


Além de acompanhar o comportamento dos machos, o estudo vai avaliar as fêmeas e os ninhos em Fernando de Noronha. “Como a tartaruga faz várias desovas, pode ser que uma ninhada tenha mais fêmeas e outra tenha mais machos. Concentramos o estudo na Praia do Leão, onde há maior quantidade de ninhos”, contou Armando.



O estudioso também colocou dispositivos nos ninhos, que medem a temperatura da areia por hora. “Ainda não tivemos nascimentos no primeiro ninho onde colocamos o equipamento. A previsão é 4 de fevereiro. A desova completa 45 dias em 2 de fevereiro. Vamos resgatar o dispositivo e identificar a temperatura, acreditamos que será mais de 28 graus”, informou.


O biólogo também está recolhendo amostras de tecido das fêmeas. Em cada ninho, serão recolhidas 32 amostras de filhotes para estudo do DNA. Será possível identificar mãe e pai das tartaruguinhas.

“Com o estudo genético, nós temos 99% de chance de saber qual indivíduo é o pai. Vamos identificar se existem ninhos de fêmeas diferentes com o mesmo macho como pai dos filhotes”, explicou.


O estudo começou em dezembro de 2019 e a coleta de dados será realizada por três anos. A pesquisa deve ser concluída em cinco anos, com as informações dos transmissores via satélite.

No dia 2 de fevereiro, uma pesquisadora norte-americana chega a Fernando de Noronha para participar da coleta de campo.




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