Será que teremos uma La Niña em 2020?


Nas últimas semanas observamos um rápido resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, além disso, na atmosfera também observamos alterações, como uma intensificação dos ventos alísios. Com esse novo cenário no Pacífico Equatorial, será que teremos uma La Niña?

A fase negativa do El Niño-Oscilação Sul, a La Niña, é caracterizada por um resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Imagem: NASA/PODAAC.

O principal padrão climático, o El Niño – Oscilação Sul (ENOS), poderá voltar a influenciar o clima global ainda nesse ano. A última vez que o ENOS esteve ativo foi na primeira metade de 2019, quando esteve em sua fase positiva, chamada de El Niño. Nas últimas semanas, o surgimento de águas mais frias na superfície do Pacífico Equatorial acendeu o alerta para o possível desenvolvimento da fase negativa do ENOS, a La Niña.

Ao contrário do El Niño, a La Niña se caracteriza como um resfriamento anômalo da temperatura da superfície do mar (TSM) do Pacífico Equatorial. Esse resfriamento ocorre quando um pulso de ondas de Kelvin oceânicas em profundidade carrega águas frias vindas do Pacífico Oeste. Essas águas frias acabam emergindo em superfície nas porções central e leste.

O resfriamento da superfície acaba gerando uma resposta atmosférica, o fortalecimento dos ventos alísios. Os alísios mais fortes, por sua vez, favorecem a ressurgência de águas mais frias na costa do Peru e ajudam a “espalhar” essas águas frias para oeste, aumentando sua abrangência ao longo do Pacífico.

Desde o mês de março, acompanhamos a evolução de um pulso de onda de Kelvin oceânica originada no Pacífico Oeste, carregando uma bolha de águas ligeiramente mais frias que o normal. Essa bolha foi viajando para leste em subsuperfície ao longo dos meses, enquanto ainda observávamos águas mais quentes que o normal na superfície. Em maio essa bolha finalmente emergiu, resfriando as regiões do Niño 3 e 3.4, que passaram a registrar anomalias da ordem de -0.5°C.

Em junho essas águas mais frias no Pacífico Central e Leste ganharam ainda mais força e continuaram a se expandir pela superfície, com auxílio dos ventos alísios que estiveram mais fortes em maio e junho. A expansão e manutenção dessas águas frias no Pacífico Central e Leste juntamente com a resposta atmosférica dada pelos ventos alísios fizeram com que as principais instituições de pesquisas climáticas acendessem o alerta de possível desenvolvimento de La Niña nesse ano.

A agência australiana de meteorologia, Bureau os Meteorology (BOM), emitiu recentemente o status de La Niña Watch em seu sistema de monitoramento pela primeira vez desde fevereiro de 2018. Um La Niña Watch significa que a chance de formação de La Niña em 2020 é de cerca de 50%. A maioria dos modelos numéricos indicam que o Pacífico Equatorial deve continuar a esfriar nos próximos meses.

Três dos oito modelos usados pela BOM mostram que o resfriamento atingirá o limiar de La Niña em agosto, dois modelos preveem que esse limiar seja atingido em setembro e os outros três preveem a continuidade da fase neutra.

Já a NOAA reforça que, por mais que esteja havendo esse resfriamento do Pacífico, ainda estamos em condições neutras do ENOS e devemos continuar assim ao longo do trimestre de inverno, com 60% de chance de continuidade de fase neutra. Já para os trimestres de primavera e verão, as chances de termos uma La Niña ou fase neutra são praticamente as mesmas, entre 45 a 50%.

Apesar dessa mudança repentina do cenário climático, ainda não podemos afirmar um evento de La Niña em 2020. Para isso ocorrer devemos observar a persistências dos padrões apresentados acima por vários meses seguidos e as previsões dos modelos devem estar mais concordantes entre si.

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