Alimentar gado com algas reduz emissões de gases de efeito estufa em 82%

Resultado de experimento nutricional se manteve a longo prazo e pode colaborar para uma produção mais sustentável de carne bovina mundo afora


Por Redação Galileu


Adicionar algas marinhas à dieta de gados pode tornar produção agropecuária mais sustentável, sugere estudo (Foto: Capri23auto/Pixabay)


Um dos responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa no planeta, o setor agropecuário pode assistir à uma queda de até 82% na liberação de metano pelo gado bovino se aderir à uma medida simples, segundo estudo publicado no último mês pela revista científica PLOS ONE: adicionar algas marinhas à dieta do animal.


Não é a primeira vez que uma pesquisa aponta para os benefícios climáticos de uma dieta bovina à base de algas. O ineditismo do estudo, liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos, na verdade, é outro. "Agora temos evidências sólidas de que a eficácia das algas marinhas na dieta do gado sobre a redução dos gases de efeito estufa não diminui com o tempo", diz, em comunicado, Ermias Kebreab, diretor do World Food Center, professor da universidade e coautor da investigação.


Durante cinco meses, ele e a doutora em Biologia Animal Breanna Roque adicionaram cerca de 80 gramas de algas marinhas na alimentação de 21 bovinos. Após monitorar o ganho de peso e as emissões de metano desses animais durante esse período, a dupla observou que, se por um lado os gados ganharam tanto peso quanto a manada que não foi alimentada com algas, o primeiro grupo expeliu para a atmosfera até 82% de gás metano a menos.


A queda na liberação do gás, segundo o estudo, não sofreu alterações significativas com o tempo. Para os cientistas, além de incentivar a redução de custos com rações bovinas, esses resultados podem colaborar para uma produção mais sustentável de carne vermelha e laticínios, uma vez que, expelido como subproduto da digestão do gado bovino, o gás metano é considerado um dos principais vilões do efeito estufa.


As algas marinhas, por sua vez, inibem a enzima do sistema digestivo do animal que contribui para a produção do metano — e sem alterar a qualidade da carne. Segundo um teste de sabor, se comparados ao grupo controle, a carne dos animais alimentados por esses organismos não sofreu mudanças em suas propriedades sensoriais, como, por exemplo, o sabor. Em um estudo anterior conduzido pela dupla de pesquisadores com vacas leiteiras, o mesmo resultado foi observado em relação ao leite extraído do animal.


Desafios


Apesar de promissores, no entanto, os resultados não deverão ser replicados em outros lugares do mundo tão cedo: a espécie de alga marinha usada pelos cientistas, a Asparagopsis taxiformis, não existe em quantidade suficiente na natureza para ser utilizada na agropecuária a nível global.


Técnicas de aquicultura em sistemas oceânicos e terrestres para o cultivo do organismo estão sendo estudadas pelos pesquisadores. Além disso, ainda é preciso encontrar uma forma de adicionar o suplemento à dieta de animais que se alimentam em pastagens abertas.


Ainda assim, a pesquisa é um importante indicador de como a agropecuária pode se tornar uma aliada no combate às mudanças climáticas. “Apenas uma pequena fração da Terra é adequada para a produção agrícola e muito mais terra é adequada apenas para pastagem. Como grande parte das emissões de metano do gado vem do próprio animal, a nutrição desempenha um grande papel na busca de soluções”, opina Kebreab.


Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com


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