As ondas de calor extremas que passaram despercebidas nas últimas décadas

Especialistas apontam aumentos de temperatura ocorridos a partir de 1960 que foram tão graves quanto o episódio de 49,6 °C registrado no Canadá em junho de 2021


Por Redação Galileu



Estudo revelou as ondas de calor mais intensas já registradas no planeta (Foto: Pixabay )


Em estudo publicado nesta quarta-feira (4) na revista Science Advances, pesquisadores identificaram as ondas de calor mais intensas já registradas no mundo nas últimas décadas. Algumas das médias de temperatura passaram quase despercebidas — apesar de terem sido bastante alarmantes.

Conforme as mudanças climáticas se agravam no planeta, a tendência é que haja ondas ainda mais quentes no futuro, segundo concluíram os cientistas. A pesquisa, liderada por experts da Universidade de Bristol, considera como referência o aumento de temperatura que atingiu o oeste da América do Norte no último verão no Hemisfério Norte.


O recorde na localidade foram 49,6 °C registrados em Lytton, na província canadense da Colúmbia Britânica, em 29 de junho de 2021 — um aumento de 4,6 °C em relação à medição mais alta anterior. Essa onda de calor foi o evento climático mais mortal de todos os tempos no Canadá: resultou em centenas de mortes e causou incêndios florestais, que devastaram infraestruturas e plantações.


Mas o estudo mostra que, desde 1960, outros cinco episódios climáticos em todo o mundo foram ainda mais graves, ainda que subnotificados. “A recente onda de calor no Canadá e nos Estados Unidos chocou o mundo. No entanto, mostramos que houve alguns extremos ainda maiores nas últimas décadas”, conta Vikki Thompson, autora principal do estudo, em comunicado.


Segundo a pesquisadora, o recorde na América do Norte será lembrado por sua devastação, porém, o estudo expõe vários extremos meteorológicos maiores — alguns dos quais foram “amplamente ignorados, provavelmente devido à sua ocorrência em países mais carentes”, de acordo com ela.



Mapa mostra a magnitude do maior extremo de calor desde 1950 em cada região do planeta. Cores mais escuras indicam extremos maiores. (Foto: University of Bristol)


A pesquisa ressalta, por exemplo, uma onda de calor de 32,8 ºC que ocorreu no Sudeste Asiático em abril de 1998; outra com pico de 36,5 °C no Brasil, em novembro de 1985, e mais uma no sul dos Estados Unidos, em julho de 1980, quando as temperaturas subiram para 38,4 °C.


Após traçarem os picos de calor, a equipe de cientistas usou modelos sofisticados para antecipar as tendências climáticas no resto deste século. “Também descobrimos que eventos extremos de calor provavelmente aumentarão em magnitude no próximo século – na mesma taxa que a temperatura média local”, afirma Thompson.


Para os cientistas, acompanhar as médias locais é muito relevante. “É importante avaliar a gravidade das ondas de calor em termos de variabilidade de temperatura local, porque tanto os humanos quanto o ecossistema natural se adaptarão a isso, portanto, em regiões onde há menos variação, um extremo absoluto menor pode ter efeitos mais prejudiciais”, explica a especialista.


O professor de Ciências Climáticas Dann Mitchell, que colaborou com a pesquisa, afirma que a mudança climática é um dos maiores problemas de saúde global atualmente. “Mostramos que muitas ondas de calor fora do mundo desenvolvido passaram amplamente despercebidas. A carga de calor em nível de país sobre a mortalidade pode chegar a milhares de mortes, e os países que experimentam temperaturas fora da faixa normal são os mais suscetíveis a esses choques”, alerta.



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