Atualização do Google Earth mostra mudanças do planeta nos últimos 37 anos

Timelapse compila imagens da Terra coletadas desde 1984 e mostra desmatamento de florestas, derretimento de geleiras e crescimento de cidades no Brasil e no mundo


Por Tiemi Osato



Atualização do Google Earth mostra mudanças do planeta nos últimos 37 anos (Foto: Reprodução/Google Earth)


Já faz alguns anos que as mudanças climáticas deixaram de ser preocupação exclusiva da comunidade científica e passaram a ser o centro de debates entre autoridades do mundo todo. Mesmo assim, pode ser difícil ter a dimensão real dos impactos desse fenômeno na Terra. Com a nova ferramenta do Google Earth, esse não será mais um problema.


Disponível a partir de quinta-feira (15), a maior atualização da plataforma no últimos cinco anos apresenta o recurso de timelapse e pode ser acessada em g.co/Timelapse ou earth.google.com/web, onde está caracterizada pelo símbolo do timão de um navio. Parte do material também está em vídeo no canal do YouTube do Google Earth. Com imagens dinâmicas, é possível ver as alterações que ocorreram na superfície terrestre ao longo das últimas quatro décadas.


“Pela primeira vez iremos colocar um retrato fiel do nosso planeta, que está em constante mudança, nas mãos de pessoas de todos os lugares”, disse Rebecca Moore, diretora do Google Earth, em coletiva de imprensa virtual nesta quarta-feira (14). A engenheira de software também acredita que a nova ferramenta será capaz de transformar o abstrato em concreto, auxiliando o público a entender o que tem acontecido na Terra desde 1984.


Um batalhão de informações


Para criar uma réplica digital do planeta, foi necessário contar com uma força-tarefa. Além do Google, também estão envolvidas no processo a Nasa, a U.S. Geological Survey (USGS), a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Comissão Europeia. Dessas quatro entidades vieram as 24 milhões de imagens analisadas, tratadas e compiladas, que deram origem à experiência 3D do Google Earth.


Desenvolvidos pela Nasa, os satélites Landsat são operados pela USGS. Karen St. Germain, diretora da Divisão de Ciências da Terra da agência espacial estadunidense, explicou que eles têm dois aspectos principais: um que permite identificar centros urbanos, fazendas e imagens do solo no geral e outro que consegue medir a temperatura da superfície dos terrenos. “A Nasa trabalha com a coleta de dados, enquanto o Google usa a tecnologia para encontrar formas de tornar as informações mais acessíveis para o público”, diz St. Germain.


Nuvens (à direita) foram retiradas das imagens de satélite (Foto: Reprodução/Google Earth)


Além disso, a ferramenta de timelapse utilizou imagens de satélite obtidas pela Comissão Europeia a partir do programa Copernicus, que é atualmente o maior provedor de dados espaciais do mundo, captando 20 terabytes de informação por dia. Com a dupla de satélites Sentinel-2A e Sentinel-2B, a ESA também contribuiu para a recente atualização do Google Earth.


Uma vez analisadas, as 24 milhões de imagens individuais passaram por um tratamento no qual elementos como nuvens e sombras foram removidos. Depois, chegou-se a uma imagem representativa de cada local da Terra para cada ano de 1984 a 2020. Com o auxílio de milhares de computadores, bilhões de megabytes foram processados em dias — tarefa que, se existisse apenas uma máquina à disposição, teria demorado 228 anos — e a costura de todos esses dados resultou no timelapse.


Da Amazônia ao Alasca


Caso você esteja curioso para conhecer a nova ferramenta e não saiba por onde começar, o Google Earth sugere cinco temáticas para serem exploradas: as mudanças nas florestas, o crescimento de áreas urbanas, o aumento na temperatura, as fontes de energia e a frágil beleza do planeta. “Essas histórias vão te levar em um tour guiado de algumas das mudanças mais comuns”, garantiu Rebecca Moore.


Com da atualização, é possível ver a ação do aquecimento global com nossos próprios olhos. Para Moore, a geleira de Columbia, no Alasca, é um bom exemplo de como o recurso de timelapse traduz grandes arquivos de informações de satélite para uma imagem de fácil compreensão.


Há ainda um registro da Amazônia que evidencia o desmatamento da floresta e mostra como algumas comunidades indígenas conseguiram proteger suas terras ao longo dos anos. O Google Earth permite também que sejam observadas as mudanças nas áreas urbanas de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.


Por fornecer evidências visuais de alterações causadas pela natureza e pelo comportamento humano, a atualização da plataforma é útil para cientistas e formuladores de políticas públicas. Liza Goldberg, fundadora do Cloud to Classroom — projeto da Nasa, do Google Earth e da National Geographic —, acredita que se trata também de uma boa metodologia de ensino.


Na avaliação dela, será possível ir além das estatísticas e dos livros didáticos. “Se o público não enxergar, ele não vai entender como as mudanças climáticas estão afetando as populações”, observou Goldberg. “Mas com educadores mostrando os impactos com o timelapse do Google Earth, nós estaremos um pouco mais perto de criar o mundo que sonhamos para nós e para o futuro do planeta.”




*Com supervisão de Luiza Monteiro

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