Invasão russa prejudica esforços contra mudança climática na Otan e no Ártico

Crises diplomáticas desmontam conselho dedicado à vigilância de um dos locais mais ameaçados pelo aquecimento global e desviam atenção de forças de segurança dos problemas climáticos


Por Redação, do Um Só Planeta


Bombardeio russo atinge edifício residencial no distrito de Svyatoshyn de Kiev, capital da Ucrânia. — Foto: Oleksandra Butova/ Ukrinform/Future Publishing via Getty Image


As consequências da invasão russa na Ucrânia seguem se espalhando pelo campo das relações internacionais, desta vez causando uma interrupção das conversas no Conselho do Ártico, responsável por diversas iniciativas de pesquisa e fiscalização do ambiente em uma das regiões mais sensíveis ao aquecimento global no planeta.


A própria Otan, aliança militar internacional de países do Atlântico Norte, que monitora os possíveis desafios de segurança que as mudanças climáticas podem trazer no contexto geopolítico, começa a ser pressionada para não perder o horizonte da crise ambiental global, em estudo publicado pelo think tank americano The German Marshall Fund no último dia 11.


No caso do Conselho do Ártico, sete dos oito membros concordaram em boicotar futuras reuniões, deixando a Rússia abandonada na cadeira da presidência rotativa do bloco, que o país ocupa atualmente, reporta a revista Scientific American.


O boicote, anunciado no início do mês por Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia, suspende indefinidamente os trabalhos do conselho.


O ataque da Rússia à Ucrânia viola os princípios fundamentais de soberania e integridade territorial defendidos pelo conselho, afirmaram as nações.

Estabelecido em 1996, o Conselho do Ártico facilita a cooperação e a colaboração em questões como pesca e gestão de recursos naturais, conservação, poluição e mudanças climáticas. Além dos oito Estados membros, o bloco também inclui seis participantes permanentes representando as comunidades indígenas do Ártico.


Entre outros projetos, o conselho introduziu estruturas para conservação marinha e desenvolvimento sustentável e compilou relatórios sobre biodiversidade, poluição e mudanças climáticas no Ártico.


Em relação à Otan, a análise do German Marshall Fund afirma que “além do custo humano, a invasão [à Ucrânia] interrompeu os mercados globais de energia e levantou questões sobre a segurança energética em toda a Europa, que vem se afastando da eletricidade baseada em combustíveis fósseis desde o início dos anos 90”.


Uma das reações da Alemanha após a ação militar russa foi suspender as obras do gasoduto Stream Nord 2, construído para levar mais gás da Rússia para a Europa central.


Inicialmente as previsões afirmam que o país tem condições de passar um ano com suas reservas de gás, mas especialistas já alertam para as dificuldades em se manter uma agenda verde em meio à escassez do combustível, considerado uma alternativa intermediária entre o petróleo e as energias renováveis.


“Levou algum tempo para as implicações de segurança das mudanças climáticas chegarem à agenda da Otan”, escreveu Jamie Shea, autor do estudo, observando que a aliança está ocupada com ataques convencionais, cibernéticos e híbridos do Oriente Médio à Europa Oriental e agora, “com a ascensão implacável da China como uma potência militar e tecnológica global”.


A segurança climática é um teste para as normas organizacionais da Otan, já que a aliança é pautada em reagir a crises, e não antecipá-las, o que no caso da mudança climática pode não ser a melhor estratégia.


Erin Sikorsky, diretora do Centro de Clima e Segurança em Washington, afirmou à Scientific American que a dependência de petróleo e gás, particularmente na Europa, “está sustentando ditadores como Putin, que estão se aproveitando” e usando os ganhos com exportações para financiar a agressões e a desestabilização regional.

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