Mineiro ganha prêmio internacional por pesquisa com material biodegradável

O engenheiro Filipe Vargas Ferreira é um dos 25 vencedores do Green Talents 2020, programa alemão que reconhece as melhores pesquisas em sustentabilidade do mundo.

Por Larissa Lopes



O engenheiro químico Filipe Vargas Ferreira é um dos 25 vencedores do Green Talents 2020, programa de estudos alemão que reconhece as melhores pesquisas em sustentabilidade do mundo (Foto: Divulgação)


Como criar materiais que sejam duradouros e resistentes ao longo de sua vida útil, mas que se degradem de forma fácil quando cheguem ao meio ambiente? Natural de Minas Gerais, o engenheiro químico Filipe Vargas Ferreira, de 32 anos, tem dedicado seu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, ao desenvolvimento de uma substância com essas características: ser biodegradável, sustentável e ter alto desempenho.


Para chegar a esse novo material, o pesquisador utilizou nanotecnologia para extrair cristais da celulose que, ao serem adicionados à preparação de novos produtos, tornaram o objeto tão resistente quanto aqueles fabricados com polímeros à base de petróleo, como o plástico. Além disso, a celulose oferece duas vantagens: uma delas é ser o polímero mais abundante encontrado na natureza, podendo facilmente substituir os derivados de petróleo; a outra é ser menos agressiva ao meio ambiente quando descartada.


Com esse novo material, o pesquisador e seu grupo de estudo já conseguiram fabricar embalagens biodegradáveis e implantes biomédicos, que foram testados com sucesso em ratos. “Até pouco tempo, usava-se a celulose apenas para a produção de papel, mas agora estamos explorando mais as possibilidades de uso desse polímero que é tão comum e pode substituir derivados do petróleo”, comemora Ferreira, em entrevista a GALILEU.


Reconhecimento


Com seus resultados promissores, o engenheiro brasileiro se tornou um dos 25 vencedores do Green Talents 2020 – International Forum for High Potentials in Sustainable Development (Fórum Internacional de Projetos com Alto Potencial para o Desenvolvimento Sustentável). O programa é desenvolvido pelo Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF) e busca reconhecer projetos nas áreas de ciência e desenvolvimento sustentável.


“Esse reconhecimento mundial é importante não apenas para mim, mas por ser resultado de uma pesquisa desenvolvida em uma universidade e com uma bolsa brasileiras. Conseguimos levar a nossa pesquisa para o mundo inteiro”, afirma Ferreira, que é o 20º brasileiro a ganhar o prêmio desde o lançamento da iniciativa, em 2009.


Neste ano, 589 candidatos de 87 países se inscreveram na premiação, que é a primeira a ser realizada virtualmente, por conta da pandemia de Covid-19. Ao longo dos próximos dias, Ferreira e os outros vencedores conhecerão, em um tour online, instituições de pesquisa, universidades e organizações alemãs que tratam sobre sustentabilidade. Entre elas estão a Universidade de Hamburgo, my Boo (empresa que desenvolve bicicletas de bambu), GEOMAR - Centro Helmholtz para Pesquisas Oceânicas Kiel, Instituto Max Planck, Instituto de Catálise Leibniz (LIKAT Rostock), Instituto Fraunhofer para Pesquisas de Computação Gráfica (IGD) e Instituto Potsdam para Pesquisas de Impacto Climático (PIK).


Segundo Ferreira, o material já foi patenteado e os próximos passos incluem testes clínicos com animais de grande porte e humanos. “Precisamos começar os ensaios, mas, para isso, precisamos de financiamento do governo e de empresas que se interessem pelo nosso produto”, diz o pesquisador, que pretende aperfeiçoar o material em sua pesquisa de pós-doutorado. “Tentaremos melhorar a performance do material e fazer com que ele saia do laboratório e seja usado pelas pessoas. Essa é a nossa forma de retornar para a sociedade o investimento que a gente recebeu.”


A pesquisa de Ferreira foi desenvolvida na Unicamp em colaboração com o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano/CNPEM); o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); a Universidade de Lyon, na França; e a Universidade de Aalto, na Finlândia. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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