Relatório do clima destaca que seca no Nordeste e temporais no Sul irão piorar

Meteorologista Claudine Dereczynski, da UFRJ, integra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e colaborou com o relatório do clima. 'Na maior parte do Brasil, a temperatura do ar tem aumentado cerca de 0,4°C por década', disse ela. Boletim destaca que efeitos da ação humana na Terra já são irreversíveis.


Por Cristina Boeckel, G1 Rio



Enchentes, neve e calor extremo: como as mudanças climáticas afetam o planeta. Foto: Reprodução G1


Há um aquecimento generalizado em todo o país por efeito da ação humana. A informação é da meteorologista Claudine Dereczynski, professora do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela é uma das colaboradoras do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira (9).


O documento afirma que os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta, e que os efeitos já são irreversíveis. Os esforços, agora, são para evitar que essas consequências piorem.

“Atualmente é possível observar aquecimento generalizado em todo o país. Na maior parte do Brasil, a temperatura do ar tem aumentado cerca de 0,4°C por década. Observa-se também um clima mais seco no Nordeste do Brasil e mais chuvoso no Sul do Brasil”, afirmou Dereczynski.

É a primeira vez que o IPCC — um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) — quantifica a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura na Terra.


A conclusão é um dos pontos do documento Climate Change 2021: The Physical Science Basis, que destaca que o papel da influência humana no aquecimento do planeta é inquestionável, e que mudanças recentes no clima não têm precedentes ao longo de séculos e até milhares de anos.


“Para o Brasil, as principais ameaças são aumento das secas nas Regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil — no final do século — com alta confiança e provável aumento na frequência de chuvas intensas no Sul do Brasil”, destaca a professora.

O documento afirma que o aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa.


Dereczynski destaca que entre as ações que podem frear um aumento ainda maior da temperatura do planeta por causa da ação humana estão a redução do consumo e a utilização de formas renováveis de energia, como a hidráulica, eólica e solar.


“O aumento da temperatura do ar provoca aumento da evaporação, consequentemente aumento na quantidade de vapor d’água no ar, que é um gás de efeito estufa, o que promove maior aquecimento e assim por diante, ou seja, é um processo de retroalimentação positivo. Como o ar quente tem maior capacidade de conter vapor d’água, temos mais combustíveis para as tempestades e assim estamos notando que os eventos de chuvas intensas e de secas severas estão aumentando em frequência e intensidade em muitas regiões do globo”, destacou a professora.


O texto desta segunda deve ser o único divulgado antes da Conferência das Partes (COP26), prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.


O relatório indica que o impacto da ação humana já está perto do limite de 1,5ºC de aumento da temperatura global que foi definido em 2015 durante a COP21, no Acordo de Paris. À época, os países presentes se comprometeram com algumas metas para conseguir barrar as mudanças do planeta, incluindo o Brasil, que diz querer atingir a neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2060.


“Essa informação é altamente relevante. Uma coisa é fazer a detecção da mudança climática, ou seja, é saber que estamos com uma temperatura 1,09°C mais alta entre 2011 e 2020, em relação ao período pré-industrial, de 1850 a 1900. Outra coisa é atribuir o 'culpado' pela maior parte deste aumento, que somos nós mesmos, entre 0,8 a 1,3°C, com melhor estimativa de 1,07°C”, afirmou a meteorologista.

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