Desmatamento está "encolhendo" os peixes da Amazônia


Em estudo, pesquisadores do IPAM ligaram o aquecimento de riachos provocados pela supressão da floresta à redução do tamanho dos peixes


Faz parte do modo de produção do homem desde sempre: determinamos áreas que são para conservação e outras para nosso uso”, conta o ecólogo e pesquisador associado do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia, Paulo Ilha.


“Deixamos intocadas as áreas para conservação, e as não são, mexe e arca com os impactos. Tenta minimizar dentro do possível”.


O problema dessa história é que nem sempre o ser humano consegue medir todos os impactos de suas alterações no meio ambiente. É o que comprovou o pesquisador, ao tentar mensurar as consequências do desmatamento em áreas rurais no Mato Grosso, próximo ao parque Nacional do Xingu.


Quando uma área perde sua cobertura vegetal, os cursos d’água ali presentes perdem o sombreamento natural e, com o sol batendo direto em suas águas, aumenta a temperatura. “Há um aumento de 3 a 4 graus da temperatura de riachos em áreas desmatadas. Essa diferença pode chegar de 6 a 8 graus nas horas mais quentes do dia” disse o ecólogo à Galileu.


Se considerar que os cientistas do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) considera que se a temperatura aumentar 1,5ºC teríamos consequências catastróficas, da para ter uma ideia o tamanho dessa diferença de temperatura para os sistemas biológicos.


Apesar dos pesquisadores não terem encontrado grande mortalidade de peixes devido ao aquecimento da água, ele deixa marcas a longo prazo. Algumas espécies estão se tornando cada vez menores, com redução do tamanho na idade adulta de até 36%.


A hipótese dos cientistas é que o aumento na temperatura acelera o metabolismo dos peixes. “A quantidade de alimento é mantida, mas com um gasto maior na manutenção do corpo, o que poderia ser um dos mecanismos possíveis para reduzir o tamanho corporal.”


Segundo o pesquisador, com esse metabolismo acelerado, o peixe até cresce mais rápido. Só que chega uma hora que as espécies deixam de investir energia no crescimento, para iniciar a vida reprodutiva. Com o aquecimento, esse momento chega antes da hora, impedindo que o peixe cresça totalmente.


Para confirmar a hipótese, o pesquisador criou dois grupos de peixes de uma espécie nativa da região, Melanorivulus zygonectes, em temperaturas de 24ºC, que é a temperatura usual nas florestas, e 32ºC, que é a média da temperatura nas horas mais quentes do dia.


“A gente viu que a temperatura de 32ºC é suficiente para causar a inibição do crescimento e perda de massa. Ou seja, estão gastando muita energia para se manterem vivos nessa temperatura. Alguns deles não conseguem lidar com essas condições e morrem”, contou Paulo Ilha.


Apesar do estudo ter se focando em riachos impactados por desmatamento e barreiras, seja para armazenar água ou criados pela construção de estradas, os impactos podem ser parecidos em rios maiores. “Nosso receio é que o aumento da temperatura possa provocar a redução dos peixe nos rios grandes, que servem de alimento para muitas pessoas, como povos indígenas e ribeirinhas.”


Dessa forma, a única saída é misturar mais áreas de conservação com a destinada para o uso humano, com sistemas de produção de alimentos sejam amigáveis à conservação, como os sistemas agroflorestais. “Desmatamos para produzir mais, mas não percebendo que muitas vezes precisamos da floresta próxima para trazer chuva e manter a produtividade”, finaliza Ilha.


Fonte: https://goo.gl/j63y4U


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O projeto Tempo de Aprender em Clima de Ensinar foi criado pela equipe do Laboratório de Meteorologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (LAMET/UENF), com o intuito de discutir com alunos e professores de escolas públicas as diferenças entre os conceitos de “tempo” e “clima” através de avaliações e estudos das características da atmosfera.

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