Climatarianos: a dieta contra mudanças climáticas que ganhou força na pandemia

Os climatarianos são a nova face do ativismo alimentar: acreditam que o que comemos (ou não) é decisivo para mudar o mundo.


Por BBC



Diminuir as distâncias de transportes dos nossos alimentos pode ajudar a abrandar as catástrofes climáticas que temos vivido, apontam os adeptos do movimento — Foto: Getty Images via BBC


Eles querem frear as alterações climáticas do planeta, e querem fazer isso pelo prato. Os climatarianos são a nova face do ativismo alimentar: aqueles que acreditam que o que comemos (ou não) é decisivo para mudar o mundo.


No caso deles, tentando reduzir ao máximo possível a pegada ambiental que a sociedade tem deixado no seu caminho nas últimas décadas.

Não são propriamente vegetarianos, ainda que preguem que devemos reduzir drasticamente o consumo de alimentos de origem animal — especialmente da carne de vaca, comprovadamente um dos animais que mais colaboram para o acirramento do efeito estufa, já que geram grande parte das emissões de gases que contribuem para o fenômeno.

"Climatariana é uma dieta saudável, amigável ao clima e à natureza. Com uma mudança de dieta simples, é possível cada um economizar uma tonelada de CO2 por ano", argumenta o site Climatarian.com, espécie de portal do movimento, que reúne os mandamentos da alimentação para diminuir os impactos dos recursos naturais do planeta.

Entre eles, estão optar por alimentos de procedência orgânica, comer apenas aquilo que é produzido com "fontes eficientes de energia" e eliminar totalmente animais "criados em fazendas intensivas".

Novos tempos

O termo, em si, não é novo: em 2015 já havia aparecido no Eatymology: The Dictionary of Modern Gastronomy, uma espécie de dicionário alimentar criado por Josh Friedland, que defende que precisamos de "mais palavras para dar voz às nossas obsessões e ansiedades alimentares". A palavra entrou no dicionário de Cambridge no ano seguinte.


Mas a dieta climatariana ganhou mais adeptos com a pandemia, que evidenciou que os impactos do que comemos (dos alimentos produzidos em monocultura aos animais silvestres dos mercados úmidos) são devastadores ao planeta.


E, de certo modo, irreversíveis: em agosto, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC na sigla em inglês) apresentou um relatório que comprova a inequívoca influência humana no aquecimento da atmosfera, dos oceanos e dos continentes. E a agricultura e a pecuária estão entre as principais fontes de emissão de gases nocivos.

Para os climatarianos, o ato de comer tem um papel ainda mais importante nesse sentido porque diz respeito a bilhões de pessoas fazendo cerca de três refeições ao dia. Ou seja, ainda que os gases lançados pelos aviões, por exemplo, causem danos mais consideráveis ao efeito estufa, proporcionalmente comemos muito mais do que viajamos.


Por isso, muitos deles também declararam guerra aos alimentos importados, de abacates a trufas, por exemplo, que precisam percorrer longas distâncias para chegar ao nosso prato. Diminuir as distâncias de transportes dos nossos alimentos pode ajudar a abrandar as catástrofes climáticas, apontam os adeptos do movimento.


"Faz muito sentido que a bandeira desse grupo seja a comida. É impossível tratar da pegada ambiental sem falar da alimentação, já que a cadeia de alimentos é uma das maiores impactantes na questão do clima hoje", opina Gustavo Guadagnini, do "The Good Food Institute", que promove o consumo de alimentos à base de plantas em substituição aos de origem animal.


Principalmente na produção animal, segundo ele. "Há uma crescente pressão social que reforça essa ideia de que é impossível ingerir produtos de origem animal na mesma quantidade quando se sabe dos malefícios que a pecuária causa ao meio ambiente", ressalta. A criação de animais usa mais de dois terços de todo nosso solo e é a maior fonte de poluição da água, de acordo com dados reunidos pela FAO (agência de alimentação e agricultura da ONU).

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