Degelo no Ártico desde os anos 1970 causou frio extremo na Europa em 2018

Pesquisadores europeus descobriram que a intensa onda de neve batizada como “Fera do Leste” foi alimentada, em grande parte, pela superfície mais quente do Mar de Barents


Por Redação Galileu


Photo by Xavier Balderas Cejudo on Unsplash


Nem sempre as mudanças climáticas se manifestam das formas mais óbvias. Apesar de ser muito comum lembrarmos do derretimento das calotas polares e da intensificação das ondas de calor como consequências do aquecimento global, os resultados desse fenômeno vão além.


Prova disso é uma pesquisa publicada no último dia 1º de abril na revista científica Nature Geoscience. No artigo, cientistas de diversos países europeus mostram a relação direta entre um episódio de inverno extremo ocorrido na Europa e o aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera.


“É fácil extrapolar modelos para expor que invernos estão ficando mais quentes e para prever um futuro praticamente sem neve na Europa, mas nosso trabalho mostra que isso é muito simplista”, observa, em nota, Alun Hubbard, pesquisador do Centro para Hidrato de Gás Ártico, Meio Ambiente e Clima (CAGE), da Universidade de Tromsø, na Noruega.


O estudo do qual Hubbard é coautor comprova que o degelo no Ártico do final da década de 1970 impactou a Europa décadas depois, mais especificamente em fevereiro de 2018. Conhecida como “Fera do Leste”, a intensa onda de frio veio da Sibéria e cancelou aulas, voos e viagens de trem em várias regiões europeias. Além disso, o fenômeno bateu recordes de temperaturas negativas em diversas partes do continente.

A equipe de pesquisa, liderada por Hanna Bailey, da Universidade de Oulu, na Finlândia, notou que o vapor atmosférico que saiu do Ártico e foi para a Europa carregava uma marca geoquímica única. Assim, os cientistas descobriram que a superfície quente do Mar de Barents, localizado no Oceano Ártico, foi a origem de até 88% da neve que atingiu a Europa em 2018.


Analisando as tendências de longo prazo de 1979 até 2020, foi possível perceber que, para cada metro quadrado de gelo marinho no inverno perdido no Mar de Barents, havia um aumento correspondente de 70 kg na evaporação, umidade e neve caindo sobre o território europeu. Isso porque o derretimento da cobertura de gelo favorece a formação de águas abertas, que absorvem o calor do Sol.


“Estamos vendo que o gelo marinho é como uma tampa para o oceano”, explica Bailey. Os cientistas concluíram que, com a redução do gelo no Ártico, quantidades crescentes de umidade entraram na atmosfera durante o inverno e causaram nevascas extremas. “Pode parecer contraintuitivo, mas a natureza é complexa e o que acontece no Ártico não fica no Ártico”, diz a pesquisadora.


Com base no estudo, acredita-se que, nos próximos 60 anos, o Mar de Barents sem gelo provavelmente seja uma fonte expressiva de aumento da precipitação — na forma de chuva ou neve — para o inverno da Europa. “Essa pesquisa ilustra que as mudanças abruptas do Ártico realmente estão afetando o planeta inteiro”, afirma Hubbard.


Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com


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