Uso de ar-condicionado no Brasil pode dobrar devido ao aquecimento global

Com o aumento das temperaturas em 4°C, demanda por refrigeração pode crescer mais de 100% no país, elevando também as médias de emissão de dióxido de carbono


Por Redação Galileu



Pesquisa analisa relação de energia e temperatura com equipamentos de ar condicionado no Brasil (Foto: Michu Đăng Quang / Unsplash)


Um novo estudo publicado na revista Energia e Edificações investiga a relação entre mudanças climáticas, necessidades de resfriamento e demanda de eletricidade. A pesquisa foi realizada por uma equipe de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em conjunto ao programa da Universidade Ca'Foscari de Veneza, na Itália, e da Fundação Centro Euro-mediterrâneo para Mudanças Cilmáticas (CMCC).


A investigação analisou os serviços de resfriamento no Brasil, além do clima e da renda no país durante o período de 1970 a 2010. Esta relação histórica permite projetar a demanda de energia resultante para serviços de resfriamento em três cenários de aquecimento: com 1,5°C, 2°C ou 4°C a mais.


O estudo mostra que a média de dias de uso de equipamentos de ar-condicionado aumentaria em mais de 100% no Brasil em um cenário de aquecimento de 4°C. Isso impactaria substancialmente a necessidade de resfriamento do ambiente e, consequentemente, o consumo de energia. Mas mesmo em casos de cenários mais otimistas de aquecimento, o consumo — e as emissões — aumentarão. Devido às necessidades de resfriamento, as emissões médias de dióxido de carbono (que estão em 0,62 tonelada métrica por ano) devem aumentar em 70%, 99% e 190% nos três cenários de aquecimento global.


Grau de resfriamento na linha de base e nos cenários de nível de aquecimento específico. (Foto: Energia e Edificações)


"Para definir as necessidades de conforto térmico passadas e futuras, usamos o Cooling Degree Days de bulbo úmido, uma medida de temperatura que contabiliza a umidade do ar", explica Enrica De Cian, coautora do estudo, em nota. “O Brasil é um país muito peculiar, pois varia muito em condições climáticas e densidade populacional. Nosso estudo mostra que o maior aumento da temperatura acontecerá na região Norte, caracterizada pela baixa densidade populacional. Portanto, não se traduzirá em consumo relevante de energia, com exceção da cidade de Manaus, a sétima maior cidade do Brasil, que fica na região Norte do país, no centro da floresta amazônica ”.


A região Norte já está saturada, com média de 328 dias anuais de uso de ar condicionado. Por outro lado, na região Sul, um aumento de 4° C na temperatura aumentaria o consumo de energia em quase 5 vezes.


A demanda total de energia para refrigeração de ambientes no país pode aumentar de forma consistente apenas pelo efeito da renda, como foi observado na primeira década deste século. Malcolm Mistry, pesquisador do projeto, afirma que "os fatores socioeconômicos também são importantes para avaliar as tendências nas taxas de propriedade e nos tipos de unidades de ar-condicionado em uso, já que normalmente há um déficit em alcançar conforto térmico em muitas residências brasileiras por causa de restrições orçamentárias."


Considerando apenas o aumento da população e da renda, a taxa de propriedade de aparelhos de refrigeração ambiente no Brasil pode chegar a 96 unidades de ar-condicionado por 100 residências em 2035, em comparação com a média atual de 40 unidades, aumentando a demanda por energia em 125%.


A eficiência energética pode reduzir potencialmente este crescimento no consumo de energia observado em todos os cenários de aquecimento. As emissões potenciais de carbono evitadas pela economia de energia com medidas de eficiência dependem da mistura de combustíveis do setor de energia. No Brasil, os autores concluem que uma melhoria de 59% da eficiência é viável, mas exigiria políticas de eficiência energética muito mais agressivas do que as que estão em vigor atualmente.

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